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Manual: Como destruir uma nação

O nazismo tem nova cara

Quando não se consegue invadir com armas e tropas, vai-se invadir a mente do povo. E essa invasão já começou anos, décadas, séculos atrás. Se fizermos uma revisão curta de história, vamos encontrar provas disso.

Desde o seculo XVII Igreja Ortodoxa da Ucrânia fica sob a orientação do Patriarca de Moscou. Até hoje o Mosteiro de Kyiv-Petchersk com o início da sua existência desde 1051 e desde 1990 foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO continua a fazer parte da Igreja Russa Ortodoxa.

1876 – O Ems Ukaz proibiu uso da língua ucraniana, sobretudo a edição e importação dos livros em ucraniano.

Séculos XVIII-XX – Educação, ciência, religião tinha que ser obrigatoriamente em russo, começou o processo de russificação.

“Renascimento tiro” – Período quando os escritores e artistas ucranianos entre os anos 1920 e início dos anos 1930 foram fuzilados ou suprimidos pelo regime totalitário de Estaline.

1932-1933 – A página mais negra da história da Ucrânia: O Holodomor, o genocídio contra a população da Ucrânia, que o Partido Comunista nega até agora. A Grande Fome era uma resposta do comunismo soviético ao campesinato ucraniano rebelde que se recusou da coletivização forçada das propriedades agrícolas. Chegou mesmo a haver casos de canibalismo. A minha geração era última que conseguia ouvir as histórias dos bisavôs que sobreviveram o Holodomor. Eu estou aqui hoje por causa deles, se não a história da nossa família tinha terminado em 1932-1933.

Já em 2012-2016, eu era uma das poucas pessoas em Kyiv quem falava ucraniano, pelo mesmo motivo fui logo identificada como pessoa de origem do oeste da Ucrânia. Só para lembrar que Kyiv é a capital da Ucrânia, e a Ucrânia que já era independente desde 1991.

Pode não parecer muito importante, mas a língua é uma das primeiras coisas que nos dá oportunidade de integração numa sociedade do país. Por exemplo, cada um em Portugal tem que falar português, até para obter a nacionalidade portuguesa tem que fazer o exame da língua portuguesa.

O grande erro cometido pelo governo da Ucrânia, que desde 1991, não havia derussificação da Ucrânia. Só durante a manifestação de 8 de dezembro de 2013, em Kyiv, o monumento a Lenine foi derrubado.

O que é isso se não é propaganda bem-pensada pelo governo que na sua maioria era sempre pró-russo.

Em 2013 – O pró-russo presidente da Ucrânia Ianukovytch, rejeitou um acordo de cooperação com a União Europeia, aceitou uma série de empréstimos oferecidos pelo governo russo e iniciou um processo de inclusão na União Aduaneira da Eurásia.  Isso levou a uma série de protestos, chamado de “Euromaidan”, e outra vez imensas mortes em nome da liberdade. Nesse meio tempo, protestos pró-Rússia também foram reportados no leste da Ucrânia.

E já em 18 de março de 2014, Vladimir Putin oficializou a anexação da península, ao assinar um projeto de lei incorporando-a à Federação Russa e no mesmo tempo começou a guerra nas partes do território de Donbas.

Ano 2022… 24 de fevereiro – Putin invade a Ucrânia com o propósito de “desnazificação” da Ucrânia esquecendo que o maior nazista é ele próprio. Se vermos o discurso de Hitler antes da invasão, e discurso do Putin antes de invadir a Ucrânia, vamos ver muitas semelhanças.

Agora uma pergunta retórica: Como é que nós vamos salvar a vida de quem sobreviveu à guerra? 

Destruíram um prédio e vamos reconstruir passado uns 1-5-10 anos.
Violar as mulheres à frente dos filhos, usar pessoas no tráfico humano, levar à força com a Rússia, derreter neve para beber água, comer cães e pombos para matar a fome, ver a morte dos pais, enterrar os vizinhos num parque infantil e rezar que morte seja rápida. Como é que vamos reconstruir a vida de uma pessoa? Será com a mesma facilidade com que vamos reconstruir um prédio? Duvido.

Será que isso tudo não é invasão e controlo da mente do povo ucraniano pelo russo?

Crise humanitária em certas cidades da Ucrânia, pelo menos 4 milhões refugiados no estrangeiro, aumento dos preços, milhares de euros para a reconstrução da Ucrânia, depois de nós ganharmos e de tantas vidas perdidas e destruídas – são as consequências que nós ainda vamos ter que lidar nos próximos anos, décadas, séculos.

Afeganistão, Moldávia, Chechénia, Geórgia, Síria, Ucrânia, quem vai ser o próximo?

Iryna Bunga
Militante da JSD Madeira

Redigido em 2 de abril de 2022

Posted in Voz da Jota

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